Um exemplo a ser seguido
Nesta edição da coluna Perfil & Memória, o Refile presta uma homenagem a um dos ícones da indústria gráfica no Distrito Federal e relembra momentos marcantes da trajetória de Georges Hanna, como empresário e diretor do Sindigraf-DF, onde atuou de forma exemplar, contribuindo para o desenvolvimento do setor.
O texto a seguir foi escrito por Samara Hanna, filha do empresário, que dirige hoje a empresa fundada pelo pai, a GH Comunicação Gráfica, com a mesma filosofia implantada por ele.
Muitas pessoas quando perguntadas sobre que cheiro tem sua infância respondem: cheiro do bolo de chuva da vovó; cheiro de mato da fazenda onde íamos passar os finais de semana. Graças a meu pai, minha infância tem cheiro de tinta.
Husni Georges Hanna, mais conhecido como Jorge Hanna ou Georges Hanna e para alguns, simplesmente Hanna, iniciou sua vida profissional, ainda no Líbano, em uma gráfica mantida pelo colégio interno onde viveu parte de sua infância e
adolescente, junto com seus irmãos, Fuad e Michel.
Como tantos outros estrangeiros, em busca de um país que lhe proporcionasse trabalho, segurança e qualidade de vida, desembarcou no Brasil, com muita vontade de conquistar seu lugar ao sol. Após curto período em São Mateus, interior do Espirito Santo, rumou para o Rio de Janeiro, onde, com seus irmãos, fundou a Gráfica Oriente.
Apesar da dificuldade com a língua portuguesa, seu sonho de mudar o seu futuro foi maior e logo a Gráfica Oriente já tinha sua clientela. Acreditando no sonho que movia parte dos brasileiros para a nova capital, em 1967, novamente com seus irmãos, Fuad e Michel, partiu para Brasília onde fundaram a Gráfica Universo. A partir daí seu destino já estava traçado como um dos pioneiros do Setor Gráfico Brasiliense. Com o espírito empreendedor constituiu as empresas Pelgraf, Prograf, Coronário e novamente a Gráfica Oriente, agora na capital federal e antecessora da GH Comunicação Gráfica. Talvez por sua formação em família libanesa e ainda a rígida educação da escola de padres em que estudou, sempre se empenhava com afinco em tudo que se propunha a fazer e sempre com um olhar crítico, buscava o máximo da perfeição.
A tipografia era o seu grande encanto. Não era incomum vê-lo ocupando horas de seu dia na produção de um cartão de visita ou um convite. Escolhia letras, movimentava tipos, definia espaços, como um maestro que rege uma orquestra.
Além de sua contribuição na qualidade do serviço gráfico oferecido em Brasília, atuava intensamente junto ao Sindigraf, principalmente na área de qualificação profissional porque, além de acreditar que as artes gráficas era um ofício de valor, via no trabalho o único caminho para o equilíbrio e bem-estar de todo o indivíduo.
Certa vez, após trocar o nome da Gráfica Oriente para GH Comunicação Gráfica, perguntado o porque do complemento Comunicação Gráfica, respondeu: é importante que se entenda que um impresso gráfico é uma forma de comunicação, e então, a GH tem a responsabilidade da comunicação expressada através do que ela, a gráfica, imprime.
E assim sempre foi, em qualquer trabalho, em cada projeto, não poderia simplesmente ser uma impressão, precisava ter identidade, precisa ter expressão, precisava fazer a diferença. Nas poucas horas que restavam do seu dia, após 12 horas de trabalho na gráfica, se dedicava a escrever. Escrevia sobre os homens e suas relações interpessoais. Não aceitava a ganância, a pobreza e tanto quanto podia lutava contra a ignorância.
Sua última aparição no cenário gráfico de Brasília, ocorreu no dia 01/04/1996 na assembléia mensal do Sindigraf.
Na mesma noite, foi internado e inesperadamente faleceu 21 dias depois deixando um vazio e uma sensação de que muitas coisas ainda poderiam ter sido feitas.
Ainda assim deixou um legado de boas práticas de conduta que até hoje são seguidas por seus sucessores e todos que por ele passaram.
Sua aparência calma e serena, suas palavras sábias, ficarão para sempre em nossa memória e em nossos corações, por todos que tiveram o privilégio de tê-lo como familiar, companheiro de ofício, amigo e patrão.
Samara Hanna