Papel Vale a pena imprimir

Se você pensa que ao imprimir está derrubando uma árvore, leia esta matéria e descubra que no Brasil, todo papel virgem provém de áreas de reflorestamento.

Quem nunca recebeu um e­mail e leu, ao pé da página, a frase “Antes de imprimir, pense em sua responsabilidade com a natureza” ou “Salve árvores.Imprima somente se for necessário”? Essas recomendações são o reflexo de mitos sobre o setor de celulose e papel que se perpetuam, apesar de não condizerem com a realidade atual da indústria de celulose e papel. Por isso,um dos grandes desafios para os profissionais do segmento, tem sido demonstrar que esses conceitos são falsos e levar ao público respostas mais pertinentes para as dúvidas relativas à plantação de eucalipto e aos produtos oriundos das florestas.

A internet é uma das ferramentas que mais espalham conceitos enganosos sobre a produção de celulose e papel, principalmente por intermédio das chamadas “correntes”(os usuários retransmitem e-mails sem verificar a veracidade das informações). Segundo uma dessas mensagens, por exemplo, as pessoas que querem ser ambientalmente corretas devem consumir mais papel reciclado. Para completar, há a seguinte frase: “Produzir papel reciclado consome de 70% a 90% menos energia do que o papel comum e poupa nossas florestas.”

Na área florestal, os mitos são ainda mais fortes e dificilmente refutáveis, já que existem diversas ONGs e ambientalistas que defendem o fim da cultura de eucalipto e criam termos como “deserto verde” para atacar as plantações do setor. “Já passou a era ‘anti-soja’ e ‘anti-cana’; o eucalipto é a bola da vez, o mártir do movimento ambientalista”, aponta Pedro Toledo Piza, consultor jurídico ambiental da PöyryTecnologia.

“É impossível fazer papel com árvores de floresta nativa”, afirma o agrônomo Nelson Barbosa Leite, sócio-fundador da Teca Consultoria e Empreendimentos Florestais. Segundo o especialista, para se produzir grandes volumes de celulose, a qualidade da matéria-prima, aliada ao preço, é muito importante. E isso só é possível de se alcançar por meio de florestas plantadas e renováveis de eucalipto e pinus. Segundo estimativa da empresa, as florestas plantadas são cerca de 30 vezes mais produtivas do que as nativas, ou seja, um hectare de floresta plantada de eucalipto produz a mesma quantidade de madeira que 30 hectares de florestas tropicais nativas.

Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), as florestadas plantadas somam atualmente 7% das florestas de todo o mundo, porém, podem fornecer dois terços da madeira destinada à produção de itens consumidos pelos quase sete bilhões de habitantes do planeta – livros, jormais, embalagens, móveis, entre outros. Além disso, mundialmente, as florestas plantadas absorvem 1,5 gigatonelada de CO2 na atmosfera por ano, o que representa 66% de todo o carbono absorvido pelas florestas do planeta. “Esses dados mostram como as florestas plantadas continuarão a atender às necessidades de consumo de produtos florestais, ao mesmo tempo que vão estocar CO2 nas próximas décadas”, afirma Elizabeth de Carvalhaes, presidente executiva da Associação Brasileira de Celulose e Papel – Bracelpa.

Acabar com o antigo mito de que o eucalipto seca e degrada o solo ainda é difícil, apesar de diversos estudos explicarem que o correto manejo das florestas plantadas não causa danos ao terreno nem ao regime pluviométrico de uma região.

Pedro Toledo Piza, consultor jurídio ambiental da Proyry Tecnologia, explica que o eucalipto, por ter rápido crescimento quando jovem, necessita de bom suprimento de nutrientes na fase inicial. “No caso de um ciclo de sete anos de idade, a maioria dos nutrientes é devolvida ao solo por meio do processo de ciclagem de nutrientes, e também há reposição nutricional, que é feita após cada colheita florestal e assegura a capacidade produtiva dos solos”.

Como bom exemplo a demonstrar que o eucalipto não “rouba” os nutrientes do solo nem o seca, pode-se citar o projeto Poupança Florestal, da VCP. Em uma experiência com pequenos produtores rurais do Rio Grande do Sul, a empresa passou a incentivar a plantação de milho e feijão entre as árvores da espécie. Os participantes do projeto Poupança Florestal chegaram a colher, cada um, mais de 50 sacas de milho plantado entre os eucaliptos jovens.

No livro O Eucalipto – Um século no Brasil, escrito por Luiz Roberto de Souza Queiroz e Luiz Ernesto George Barrichelo, o consumo de água da espécie também é bem delineado. Os autores citam o professor Mário Guimarães Ferri, que fez, em 1952, um estudo na Esalq/USP para comparar o consumo de água das espécies nativas e exóticas. O resultado mostrou que o eucalipto não é, como acusado, uma “máquina de sugar água”. O livro informa: “Segundo Ferri, um cedro brasileiro consome 37.500 litros de água anualmente, ao passo que cada eucalipto suga 19.600, praticamente a metade”. Ao contrário das árvores nativas testadas, de acordo com o trabalho, o eucalipto consome mais água no verão, justamente no período das chuvas.

Estudos como os realizados por Mauro Schumacher (2003), Júlio César Lima Neves (2000) e José Leonardo de Moraes Gonçalves & Mello Sérgio Luis de Miranda Mello (2004) também acabam com o mito de que as raízes do eucalipto sugam a água disponível do lençol freático por serem profundas. Os levantamentos ainda indicam que, em média, as raízes de eucalipto atingem profundidades de 1,5 m a 2,5 m. “A maioria das raízes finas, que são as grandes responsáveis pela absorção da água e dos nutrientes, encontra-se nos primeiros 20 cm de profundidade do solo; portanto, é obvio que as raízes do eucalipto irão absorver água, se disponível, ao seu redor, mas dificilmente atingirão o lençol freático, principalmente porque as raízes não conseguem se estabelecer em ambiente anaeróbico”, explica Toledo Piza.

Foelkel ainda ressalta que a floresta também ajuda na recuperação de solos degradados por pastagem, por exemplo, que estão compactados. “As florestas são muito úteis no caso de chuvas mais intensas e que duram algumas horas ou dias, pois, com isso, permitem que a água chegue ao solo, infiltre-se e recarregue o lençol subterrâneo.”

Piza concorda com Foelkel, afirmando que “a conta final verificada nos plantios atuais do Brasil é o balanço hídrico positivo para as florestas plantadas”. O consultor da Pöyry ainda lembra que imagens de satélites comprovam que diversas áreas utilizadas para a plantação de eucaliptos e pínus foram recuperadas da degradação por causa das florestas plantadas. “As bases florestais das indústrias de celulose e papel permitiram a recomposição florestal de extensas áreas e a interligação de fragmentos florestais antes desconexos.”

Com ciclos longos – de, no mínimo, cinco anos – entre o plantio e a colheita, as florestas plantadas requerem poucas ações do homem sobre o solo, não exigem muitos nutrientes e podem ser cultivadas em terrenos de baixa fertilidade, o que permite a recuperação de áreas degradadas. Nas áreas florestais, as empresas recuperam e preservam de 30% a 50% da área total, o que coloca o setor entre os que mais conservam a natureza no País.

Além dos já citados benefícios ambientais, a plantação de florestas e a indústria de papel e celulose, gera 110 mil empregos diretos e cerca de 500 mil indiretos, R$ 2,1 bilhões recolhidos em tributos, US$ 3,4 bilhões em exportações e uma participação de 1,2% no PIB nacional. Além disso, pelo programa de fomento florestal, mantém parcerias com um grande número de proprietários rurais.

Para que essas informações cheguem à população de forma correta, a Bracelpa (Associação Brasileira de Celulose e Papel), por intermédio dos Comitês de Meio Ambiente e Comunicação, tem unido esforços dos fabricantes do setor no fornecimento de dados consistentes sobre as florestas plantadas e do setor como um todo. Até mesmo a palavra “mito” tem sido abolida das divulgações passadas para o público em geral, com a intenção de tirar qualquer receio sobre o tema. Além disso, o assunto vem chamando a atenção de pesquisadores do mundo todo, que em artigos técnicos têm detalhado diversos desses temas e mostrado dados com maior embasamento técnico sobre os eucaliptos, muitas vezes provando com casos concretos que a espécie é benéfica ao meio ambiente em diversas situações.

Papel branco: o vilão das Florestas?

É comum ainda vermos campanhas contra a utilização de papel branco, até mesmo com a afirmação de que árvores nativas são cortadas para sua fabricação. “No Brasil, porém, o setor tem como premissa usar florestas plantadas para fornecimento de matéria-prima, e muitas vezes essas áreas já estão desmatadas ou degradadas, de modo que a implantação de floresta de eucalipto gera maior preservação ambiental”, afirma Piza.

Outro problema, comenta Mudado, da UFV: muitas vezes as próprias empresas fabricantes de reciclados ajudam a aumentar os erros conceituais, dizendo que o reciclado é mais amigável ao meio ambiente. “Os dois tipos de empresas – de papel reciclado e de fibra virgem – são importantes, mas isso não significa que o reciclado é, a princípio, mais amigável, pois isso depende de outros aspectos que precisam ser considerados. Existem, por exemplo, fábricas de reciclados que precisam de aparas de outros Estados, às vezes a uma distância tão grande que as emissões dos caminhões necessários para o transporte causam um impacto muito grande”, diz. Para ele, é muito importante que todos tenham consciência de que a reciclagem é uma forma de reutilizar um material valioso e que não deve acabar diretamente num aterro sanitário ou sendo incinerado. “Por outro lado, a fibra não pode ser reciclada indefinidamente. Alguns artigos sugerem que isso pode ser feito, no máximo, até cinco vezes, já que, depois, a fibra perde as características físicas que possibilitam sua transformação novamente em papel”. Por conta disso, enfatiza Mudado, o papel branco de fibra virgem sempre precisará existir, e não é saudável que o consumidor considere ruim esse segmento de produção. “As pessoas confundem as árvores cortadas para  fazer papel com as florestas nativas, que no passado foram, sim, muitas vezes devastadas, mas hoje já existe uma consciência ambiental sobre o tema e até se planta muito mais do que se colhe.” Ele cita como exemplo a Finlândia, que sofreu desmatamentos, mas reverteu seu quadro e hoje possui mais florestas do que há 50 anos.

Há algum tempo, grandes empresas brasileiras atuantes em prol da sustentabilidade passaram a utilizar papel reciclado em suas publicações e documentos, alegando que, assim, contribuíam de forma ativa para a preservação ambiental. Entre essas empresas estava a Natura, que, no entanto, ao analisar o ciclo de vida do produto, acabou optando, em 2008, por utilizar novamente papel de fibra virgem – dessa vez o couchê produzido a partir de madeira certificada pelo FSCR. Em comunicado oficial, a empresa ressaltou que, como o papel couchê tem menor gramatura, permite redução de 3.500 toneladas no consumo anual de papel e, por consequência, diminui também a quantidade de resíduos gerados pelo descarte.

Para comparar o papel reciclado com o de fibra virgem, é importante considerar todo o ciclo de vida do produto, incluindo o transporte da madeira e das aparas. “O balanço pode ser mais econômico para o reciclado, mas isso depende muito do tipo de papel que está sendo produzido e da própria operação de cada fábrica. Não existe ainda uma maneira de o comprador saber se realmente está levando um papel reciclado sustentável”, afirma. Quando outros pontos são comparados, como o consumo da água, geralmente as fábricas de reciclados saem na frente, pois têm facilidade no fechamento de circuitos, já que o processo não exige alta qualidade do produto final. “Por outro lado, as recicladoras têm um processo chamado destintamento, que pode tornar-se um problema se não for bem feito, pois a tinta removida do papel a ser reciclado pode ser revertida num lodo tóxico e até conter traços de metais pesados”, diz Mudado.

Todas essas informações, ressalta o professor, são importantes para que o consumidor entenda a necessidade de haver equilíbrio em seu consumo. “As pessoas devem consumir tanto papel reciclado quanto de fibra virgem, pois cada um tem vantagens”. Piza concorda com Mudado: “A consciência da reciclagem é muito importante e deve ocorrer em nível global, mas não se pode esquecer que há lados positivos e negativos em uma postura exagerada de só consumir papel reciclado. A fibra virgem tem também um importante lugar”.

Fontes de Pesquisa: Revista Abigraf; Revista Publish; Revista O Papel; Bracelpa